Remoto não é o bastante seu trabalho precisa ser assíncrono
- Johnny Wellington
- 21 de nov. de 2024
- 7 min de leitura
Atualizado: 2 de dez. de 2024

Nós entendemos que o flow de cada um pode acontecer em momentos diferentes. Falando sério, para lá da modinha, todos sabemos que as necessidades da vida adulta vão muito além de trabalhar. Por isso, a Arbeit Studio nasceu e continua sendo uma empresa remote first. Mas, isso não é o bastante. Então, gostaríamos de compartilhar um pouco do que estamos fazendo para nos tornarmos um time assync first.
Ao longo do tempo adotamos alguns hábitos
Nosso time desenvolveu uma cultura bastante saudável de retrospectivas, momento em que discutimos de tudo, de peito e mente abertos. É impressionante a velocidade em que iteramos e testamos ideias que aos poucos vão aprimorando nossa técnica. Somos o Time de Teseu!
Esse texto traz um compilado com algumas das práticas que adotamos ao longo do ano passado. Todas após constatação de problemas concretos e discussão em retrospectiva. Nós não tentamos fazer nosso trabalho caber em frameworks, mas selecionamos práticas que fazem sentido para nós.
Registramos tudo o que vem a mente enquanto estamos trabalhando
Fomentamos o hábito de registrar tudo nos comentários das tarefas. Sejam ideias que não funcionaram, descobertas sobre a base de código, descrições do que estava fazendo para continuar depois, vale tudo.
Eu costumo dizer que essa é a nossa versão do gravador do médico legista dos seriados policias. Vamos “abrindo o corpo” e descrevendo tudo que estamos vendo e pensando.
Registrar tudo de forma natural sem que pareça “trabalho extra” não leva tanto tempo, o segredo é desapegar da forma e focar no conteúdo.
Quando a informação tem escopo maior que a tarefa, como uma regra de negócio por exemplo, documentamos num formato mais longo como documento mesmo. Mas, ainda assim o foco é o conteúdo. Mais vale um brain dump cheio de informação, que uma redação muito bem estruturada mas superficial.
Escrevemos de forma assertiva, sem rodeios, com o máximo de informação possível
Escrever bem exige prática, assim como exige prática programar bem, ou fazer bom design. Mas, se existe algum super poder no mundo real, é o de dominar qualquer coisa que repetimos vezes o suficiente. Por isso estamos sempre atentos a como escrevemos, pra eliminar qualquer complexidade e voltas que as vezes damos quando tentamos comunicar alguma coisa.
Comunicação de trabalho, mesmo que utilizando mensagens instantâneas, não é bate-papo. Mandamos mensagens completas, com todo o contexto e dúvida, não puxamos papo antes. Paramos e pensamos no que queremos comunicar antes de enviar uma mensagem. Sim, nós praticamos o no hello.
Ainda assim, mesmo quando escrevemos mensagens completas e contextualizas, que podem ser respondidas imediatamente, não esperamos que elas serão. Lembre-se, a comunicação é assíncrona. Se a situação não é emergencial, não exige resposta imediata. Se for emergencial deixamos isso claro.
“Real-time is the wrong time most of the time” — Sinal 9 da 37signals.
Outro problema muito comum na comunicação textual é escrever apenas informações, sem conclusão. Tendemos a achar que o outro irá interpretar as informações da mesma forma que nós, chegando a mesma conclusão. Isso é um engano. Sempre concluimos nossos raciocínios e dizemos diretamente o que queremos dizer.
Ruim:“Por isso o agendamento falhou” — Seguindo de um print da interface admin.
Bom:“O agendamento falhou porque o tipo de conta de usuário não foi informada durante o cadastro”.
Na segunda mensagem tem até uma possível solução ao probelma: Tornar o tipo, obrigatório durante o cadastro do usuário.
Outro problema é a falta de objetividade. Se queremos que o outro faça alguma coisa, pedimos diretamente. Isso não é dar ordens, é um pedido, na moralzinha. O ponto é que você não pode só descrever uma situação e esperar que o outro reaja da forma que você esperava. As vezes isso acontece sim, mas não é a regra. Comunicação assertiva é sempre a melhor opção para garantir que a mensagem foi entendida. Também, evita frustração com a quebra de expectativa que a comunicação prolixa ou incompleta pode causar.
Ruim:“O alarme do sistema está indicando aumento no tempo de respostas”.
Bom:“Fulano, pode investigar porque o alarme do sistema está indicando aumento no tempo de respostas, por favor?”
Bom:“O alarme do sistema está indicando aumento no tempo de respostas, mas isso não é uma prioirade no momento. Beltrano, pode apenas acomponhar as métricas, por favor? Caso passe da tolerância repriorizaremos isso”.
Na primeira mensagem você só está informando algo, não delegou nem explicitou a necessidade de ação. Claro, existe quem irá “pular em cima do problema”, mas isso não é a regra. Deixe claro sua expectativa, como demonstrado no segundo exemplo. Ainda assim, nem sempre a reação proativa é a melhor opção, como mostra o terceiro exemplo. Se não for clara, a mensagem pode causar distração e impactar suas prioridades.
Discutimos através de textos longos
Isso mesmo, como as pessoas faziam desde a aurora dos tempos.
A forma escrita, ainda que desafiadora, é bastante inclusiva. O medo de falar em público é um desses medos quase universais. Se você não teve a oportunidade de confrontá-lo na infância e adolescência, pode estar carregando-o consigo até agora. Você pensa no argumento perfeito, começa a falar, mas no instante em que as atenções se voltam a você, as palavras se perdem e o raciocínio se embaralha. Sustentar um argumento só na oratória é incrível, mas difícil de se alcançar.
Por isso, quem tem facilidade de falar em público acaba “ganhando” a discussão. Falar bem ajuda a comunicar a informação de forma mais clara. Então, mesmo que a sua ideia não seja a melhor, vai ser a mais bem explicada, aumentando muito as chances de ser a mais bem aceita.
Nós preferimos dar tempo para que decisões importantes possam “decantar” antes que sejam tomadas. Um texto longo e estruturado pode ser lido quantas vezes forem necessárias. Você tem mais tempo para pensar na crítica, pode buscar referências, escrever e reescrever.
Essa prática aumenta o espaço de colaboração, torna a discussão mais inclusiva e menos imediatista.
Mas, é importante ser vigilante para que não vire elitismo. O objetivo é aumentar a participação, não restringir. Não exigimos que tudo seja assim, mas fomentamos e auxiliamos para que eventualmente, após alguma prática, qualquer um consiga e goste de se comunicar dessa forma. Até lá vale tudo: Um arquivo com alguns bullet points explicados verbalmente é melhor que só a explicação. Esse material pode ser complementado posteriormente com a ajuda de alguém.
Outro benefício dessa prática é a economia de tempo com reuniões.
Aposto que você já ficou uma hora ouvindo alguém falar e pensando: “Isso poderia ser um e-mail”. Pois é!
O texto longo e estruturado exige um pouco mais de tempo de quem o escreve, mas poupa muito tempo de quem o lê. Quanto maior a audiência, maior o impacto. Além de permitir releitura e anotações, como já mencionei. Também diminui a necessidade de conversa síncrona, eliminando problemas de agenda e atrasos para discutir algum problema. Também serve como referência para embasar novos textos e consolidar conhecimento.
Essa ainda é uma prática nova no nosso "cinturão de utilidades", mas é a que me deixa mais animado, porque o impacto é tremendo!
Pedimos ajuda por qualquer coisa, sim!
Essa até agora está sendo a mais desafiadora. Numa industria em que exaltamos os programadores 10x (sem nem saber o que isso realmente significa) e relegamos os normies, não é nada fácil emplacar uma cultura de fraqueza e vulnerabilidade, duas coisas essenciais para o trabalho efetivo em equipe. Todos já vimos de fábrica com o firmware que nos impede de dizer abertamente que não sabemos alguma coisa e que precisamos de ajuda.
Eu mesmo me pego tendo que lidar com isso de vez em quando até hoje.
“Se você se sente um impostor, é porque você é um impostor.” — Kelsey Hightower
A frase do Kelsey, um dos criadores do Kubernetes, quer dizer que o problema não é você não saber algo, mas não gritar aos quatro cantos a plenos pulmões sobre isso. Se você não é transparente sobre o que você sabe, está se tornando o impostor ao deixar que outros criem uma imagem falsa de você. A expectativa não bate com a realidade. O problema é que isso nutri o sentimento de que a qualquer momento você será descoberto, ou que não “merece” o que tem, ou sua posição.
Tente se abrir mais, você vai ver que a síndrome abranda. Vale lembrar que o termo “síndrome” indica que isso tem implicações reais na sua vida. Podendo ir muito além de um sentimento ruim, te paralizando quando sob grande expectativa ou desencadeando um burnout.
(Agora, se você não consegue se abrir porque sente que seu trabalho está em risco, aí o buraco é mais embaixo. De duas, uma: Você já desenvolveu, e carrega consigo, esse comportamento defensivo de experiências passadas. Ou, você provavelmente trabalha num ambiente tóxico, cheio de microagressões e vieses. Em ambos os casos se seu lider não está tratando desse assunto contigo, ele não se importa, fazendo parte do problema, ou não está equipado com as ferramentas socioemocionais necessárias para lidar e te guiar nessa situação. Mas, isso é assunto para outro texto).
Pra tentar emplacar essa prática relembramos incansavelmente que todos devem pedir ajuda e não sofrer sozinhos. Inclusive os profissionais seniores, eles tem que dar o exemplo.
Outra coisa que fomentamos é o trabalho conjunto, conhecido como pair programmaing, mob programming, ou ensemble programming. Nosso objetivo é conseguir que todos trabalhem com mais alguém, sempre que possível.
Claro, num time assíncrono trabalhar em conjunto é um desafio. Por isso precisa ser intencional. Tem que combinar um horário, botar na agenda num momento que ambos possam. Bem combinadinho todo mundo se diverte.
Recapitulando
Adotamos práticas como o registro de tudo o que vem à mente durante o trabalho, escrevendo de forma assertiva e completa, discutindo através de textos longos e pedindo ajuda para tudo.
Essas práticas nos ajudam a promover uma cultura de colaboração, inclusão e efetividade no trabalho em equipe. Ao adotar esses hábitos, estamos nos tornando um time assíncrono, capaz de atender outras necessidades durante o dia útil e fazer nosso próprio horário de trabalho. Estamos comprometidos em criar um ambiente de trabalho flexível e produtivo, onde todos possam se sentir à vontade para compartilhar ideias, buscar ajuda e contribuir para o sucesso do time.
Juntos, estamos construindo uma empresa que valoriza o equilíbrio entre vida profissional e pessoal, permitindo que cada um de nós tenha autonomia e liberdade para gerenciar seu tempo e suas necessidades. Estamos orgulhosos do que conquistamos até agora e animados com o futuro que estamos construindo juntos como um time assíncrono e colaborativo.
Conta pra gente
Como seu time lida com o trabalho remoto?
Sua equipe pratica alguma dessas coisas?
Quais outras práticas sua equipe adota?
Quais foram os desafios que seu time enfrentou ou enfrenta no trabalho remoto?
Como vocês superaram ou tentam superar os desafios?
Comente e compartilhe o material com seus pares!
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